O dia em que o Brasil amanheceu mais injusto

Sessão da Câmara dos Deputados, dia 10 de julho

Por Norian Segatto

Até o final da sexta-feira, na conclusão da edição do Jornal dos Petroleiros, a Câmara dos Deputados continuava a votar emendas ao texto da reforma da Previdência (PEC 6/19), aprovada em primeira votação no dia 10 por 379 votos a favor do texto base, contra 131. Assim que todas as emendas forem votadas se poderá ter um balanço mais exato do tamanho do prejuízo para a classe trabalhadora. Entretanto, é possível afirmar sem qualquer margem de erro que esta reforma, juntamente com a trabalhista, aprovada na gestão Temer – e utilizando os mesmos métodos de compra de votos via emendas parlamentares – são os maiores golpes contra os trabalhadores nas últimas décadas.

Após a votação na Câmara, o projeto segue para o Senado. “Vamos pressionar os 81 senadores e senadoras a dizer não a esse texto da reforma da Previdência. Lutaremos até o fim para impedir essa crueldade com as trabalhadoras e os trabalhadores brasileiros”, afirmou o presidente da CUT nacional Vagner Freitas. A Central, assim como outras entidades, estiveram a semana toda em Brasília acompanhando a votação e conversando com parlamentares para alertar sobre o desastre dessa aprovação. No entanto, os bilhões derramados pelo governo falaram mais alto na (in)consciência de centenas de parlamentares, mais preocupados com o próprio bolso do que com o país. Estima-se que o governo tenha liberado, nos últimos dias, mais de R$ 3,5 bilhões em emendas para beneficiar parlamentares em troca de votos; apenas do programa Mais Médicos foram desviados R$ 1,25 bi.

 

Mobilizações continuam

Brasília- DF. 12-07-2019- Manifestação de estudantes na esplanada dos miistérios contra a reforma da previdência e cortes na educação. Foto Lula Marques

No dia 10 de junho, milhares de pessoas ocuparam as ruas em atos contra a reforma, que estava sendo debatida naquele instante pelos deputados federais. Em São Paulo, cerca de 10 mil pessoas ocuparam uma das faixas da avenida Paulista, em frente à Fiesp, para protestar contra a votação. Uma liminar chegou a ser aprovada impedindo a votação, mas durou exatos 16 minutos antes de ser cassada.

Na sexta-feira, 12, estudantes, movimentos sociais e sindicais lotaram as ruas de Brasília. Quase nada disso você viu nas TVs e mídias tradicionais, porque essas empresas também têm interesse na reforma e acertaram compromissos de isenção de pagamento de impostos sonegados e dívidas trabalhistas.

 

Quem se beneficia com a reforma

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, coordena reunião de líderes partidários.Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil

 

  • O sistema financeiro – desde o início do governo, o ministro Paulo Guedes bate na tecla de uma previdência com modelo neoliberal chileno, de capitalização individual, o que significa o aporte de bilhões de reais todo mês para instituições financeiras. Para se ter um exemplo, no Chile, as seis instituições que capitalizam a previdência do país possuem patrimônio igual a 70% do PIB chileno. Na outra ponta, a maioria dos aposentados recebe cerca de meio salário mínimo.
  • Rodrigo Maia – o presidente da Câmara foi o grande articulador da agenda da reforma da Previdência e sonha mais alto, com 2022.
  • O governo Bolsonaro – é inegável que apesar das trapalhadas, o governo saiu fortalecido deste embate e começa a descobrir o caminho das pedra$ para aprovar outras benesses ao empresariado.

Quem perde com a reforma

Todos os trabalhadores da iniciativa privada e funcionalismo público, em especial os jovens, as mulheres e pessoas de menor renda, que terão de trabalhar mais, em empregos mais precarizados e sem qualquer certeza de que um dia poderão se aposentar.

 

Como sair dessa enrascada

Brasília- DF. 12-07-2019- Manifestação de estudantes na esplanada dos miistérios contra a reforma da previdência e cortes na educação. Foto Lula Marques

Parando o Brasil com uma poderosa greve geral!

 

 

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