Centenas de trabalhadores se reúnem no portão principal da Refinaria de Paulínia, interior de São Paulo, em apoio à greve nacional da categoria
Por Guilherme Weimann
No início da manhã desta sexta-feira (14), cerca de 200 trabalhadores realizaram um ato em frente à Portaria Sul da Refinaria de Paulínia (Replan), para reafirmarem o compromisso com a greve nacional dos petroleiros que está no seu 14º dia. Localizada no município de Paulínia, no interior de São Paulo, a refinaria é a maior do Sistema Petrobrás.
Uiram Kopcak, de 44 anos, foi um dos que se somaram a atividade. Há 13 anos na empresa, o engenheiro de processamento, atualmente no setor de comercialização, discorda da política da atual direção da empresa que visa fracionamento e venda da companhia.
“Não é bom para ninguém o caminho que a empresa está tomando. Nem para os trabalhadores, nem para a população brasileira, nem para os acionistas. Apenas para os rentistas do mercado de curto prazo. Hoje, os bancos estão com lucros bilionários e o resto do país estagnado. Quem vai ganhar dinheiro com o desmembramento da Petrobrás? Apenas o capital financeiro. O setor industrial vai ser liquidado”, opina o petroleiro.
Kopcak também lamentou a falta de diálogo com a empresa e frisou que os trabalhadores, desde o início da paralisação, mostram-se dispostos a abrir um canal de negociação. “Nós não gostamos de fazer greve, mas fazemos pelo bem do país e dos trabalhadores. Estamos totalmente abertos a negociação, mas não aceitamos essas demissões”, afirma Kopcak.
As demissões citadas pelo engenheiro são referentes aos mil trabalhadores da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR), que teve fechamento anunciado pela Petrobrás. A medida, entretanto, fere o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) que estabelece prévia negociação com as categorias dos trabalhadores no caso de demissão em massa.
Não basta resistir
Outro petroleiro presente na atividade foi Antônio Jesus Alencar Ferreira, de 71 anos, conhecido como Alencar. Durante a histórica greve de 1983, ainda sob a ditadura militar, o então sindicalista foi caçado pelo governo. Apenas cinco anos depois, com a Constituinte de 1988, Alencar e outros 140 trabalhadores ganharam a anistia política.
Com tanta experiência de enfrentamento, Alencar se orgulha da nova geração colocar a categoria novamente na vanguarda política: “Quando toda a esquerda, inclusive os partidos políticos, estão na lógica de ‘precisamos só resistir’, nós partimos para a reação. Estamos sendo protagonistas dentro desse contexto político que impera ‘resistência pacífica’”, avalia.
Apesar de afirmar que a conjuntura política é delicada e apresenta elementos sem precedentes, o aposentado enxerga na luta a única saída para sair dessa encruzilhada. “Vamos esperar sermos massacrados para agir? A luta é dura e pesada, tanto é que eu luto até hoje pelos meus direitos. Mas só é possível obter conquistas por meio da luta. Se não fizermos isso, nós vamos voltar pra condição de escravos. Condição que, por sinal, nós só saímos com muita luta. Por isso é que a luta vale a pena”, recorda Alencar.
Criminalização sem precedentes
Ao mesmo tempo que a categoria já avalia a porcentagem de adesão da base de trabalhadores como histórica, as medidas tomadas pelo judiciário se mostram sem precedentes. Essa é a opinião de Márcio Gonzaga Cardoso, de 56 anos, aposentado em dezembro do ano passado. O operador de petróleo da unidade de destilação entrou na Petrobrás em julho de 1983, justamente após a greve que caçou o emprego de Alencar.
“Eu diria que desta vez particular, da criminalização do judiciário em relação a greve, não há precedentes. Eu era diretor do sindicato na greve de 1995 e aí também houve um massacre muito grande. Naquele momento, a mídia utilizou uma estratégia diferente, porque ela arrebentou com a gente desde o primeiro momento. Mas essas últimas decisões do Tribunal Superior do Trabalho [TST] praticamente impedem o direito à greve”, pondera Cardoso.
O petroleiro se refere às decisões do ministro do TST, Ives Gandra. Em uma delas, ele aprovou medida cautelar que obriga a manutenção de 90% do efetivo de trabalhadores nas unidades da Petrobrás, sob pena de multa diária de R$ 500 mil aos sindicatos caso a decisão seja descumprida.
“O governo Bolsonaro tem um caráter fascista e autoritário. E vai além de um modelo neoliberal, com o Fernando Henrique Cardoso. Na verdade, é um governo ultraliberal. Ele quer acabar com tudo do que é do Estado. Mais do que direitos dos trabalhadores, mais do que atacar nossas garantias, esse governo quer acabar com a própria organização sindical. E é por isso que nós precisamos e estamos resistindo”, explica Cardoso.
Atos semelhantes estão ocorrendo por todo o país. De acordo com informações da Federação Única dos Petroleiros (FUP), 113 bases do Sistema Petrobrás já aderiram à greve, com aproximadamente 20 mil petroleiros mobilizados.