Petroleiros de diferentes gerações recordaram a história de construção da unidade e se manifestaram contra o plano do governo de privatizar a estatal
Por Guilherme Weimann \ Fotos: Diogo Zacarias
Na manhã desta quinta-feira (12), a Refinaria de Paulínia (Replan) – a maior do Sistema Petrobrás – completa 50 anos. Para marcar esta data, cerca de 150 petroleiros e apoiadores se reuniram logo no início da manhã em frente à unidade para denunciar as políticas privatistas do governo em relação à Petrobrás.
“Hoje, viemos aqui com duas tarefas. A primeira é saudar o aniversário desta refinaria, construída com sangue e suor de milhares de trabalhadores ao longo de cinco décadas. A segunda é denunciar que ela, assim como toda a Petrobrás, está em risco. Por isso, este é um ato de comemoração, mas principalmente de luta pelo futuro dessa companhia”, afirma o diretor do Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro-SP) Arthur Bob Ragusa.
Na última semana, a gestão da empresa anunciou que vai investir US$ 458 milhões na construção de uma nova unidade de tratamento de hidrotratamento de diesel na Replan. Prevista para ser inaugurada em 2025, a obra gerará 6 mil empregos, entre diretos e indiretos, e aumentará a produção de diesel S-10 em 63 mil barris por dia (bpd) e de querosene de aviação em 12,5 mil bpd. Atualmente, a refinaria tem capacidade para processar 434 mil barris de petróleo por dia, atendendo 30% do território nacional.
“Não é de hoje que se fala sobre a expansão da Replan, o que não somos contra, muito pelo contrário. Mas, caso de fato aconteça, quem vai se beneficiar com isso diante de um discurso de privatização da empresa?”, questiona.
Na última quarta-feira (11), o novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, afirmou no seu discurso de posse que irá solicitar “os estudos pendentes para as alterações legislativas necessárias para desestatização da Petrobrás”.
Memória viva
Um fato histórico não necessariamente é reconhecido no momento em que ocorre. Na maioria dos casos, a sua relevância é construída e reconstruída ao longo dos anos.
Essa é uma constatação do petroleiro aposentado Benedito Francisco Ferreira, mais conhecido como Ditinho. No dia 12 de maio de 1972, então com 19 anos, trabalhava em uma empresa terceirizada de terraplanagem que atuava na Replan.
“Eu estava na refinaria e me lembro da comitiva que veio participar da inauguração, incluindo o então presidente da Petrobrás, o Ernesto Geisel. Mas eles criaram um cordão de isolamento com um raio de um quilômetro, por isso só acompanhei de longe”, recorda.
A importância desse marco temporal, entretanto, apenas foi reconhecida por Ditinho ao longo dos anos. “Quanto mais distante vai ficando do fato, mais a gente vai reconhecendo detalhes que no momento a gente não consegue dimensionar, medir a importância”, opina.
Pessoalmente, a Replan tomou outra dimensão para Ditinho com a sua entrada na Petrobrás no dia 1 de setembro de 1976, após passar no concurso público para o cargo de eletricista.
Na planta, atuou até o dia 31 de março de 1997, quando se aposentou. “Eu tenho dificuldade em falar apenas da Replan. Porque, para mim, Petrobrás e Replan são uma coisa só. E, para mim, elas são absolutamente tudo, fazem parte da minha vida”, declara.
Futuro
Na última semana, a atual gestão da Petrobrás, indicada pelo governo Bolsonaro, realizou uma homenagem na refinaria à Ernesto Modesto, que foi interventor da ditadura no Sindipetro-SP em 1983, após uma greve histórica que causou a demissão de 150 petroleiros – incluindo todos os diretores sindicais.
Presidente do sindicato na ocasião, Antônio Jesus Alencar Ferreira, considera que o convite ao antigo interventor é uma tentativa dos atuais condutores da empresa de apagar a memória de luta dos trabalhadores.
“Eles estão buscando apagar a memória de luta e resistência dos trabalhadores e recontar a história da Petrobrás sob a ótica de pessoas que nunca priorizaram a empresa, muito menos o desenvolvimento e a soberania nacional”, aponta.
Em contraponto, Alencar é um dos que atuam pela anistia de todos os demitidos políticos da greve de 83. “A minha atuação sempre foi pelo direito à memória. E o direito à memória está totalmente ligado ao direito de futuro, da Petrobrás e do Brasil”, conclui.