Neste 1º de Maio, lembramos de Wanda Conti, uma das primeiras dirigentes petroleiras

Diretora foi a primeira mulher a fazer parte da direção provisória da CUT e participou de diversos movimentos em defesa dos direitos trabalhistas

Petroleira aposentada da Replan, Wanda acredita que a principal luta atual é vencer tudo o que Bolsonaro significa (Foto: Arquivo Sindipetro-SP)

Por Andreza Oliveira

Em luta por melhores condições de trabalho, operários foram presos e mortos em um conturbado protesto na cidade de Chicago, nos Estados Unidos, que contou com represália policial naquele 1º de maio de 1886. Mais tarde, a data se tornaria uma referência para a luta trabalhista com a instauração do Dia Internacional do Trabalhador.

No Brasil, o feriado foi oficialmente decretado em 1924 por Artur Bernardes, presidente da época, e instituído 19 anos mais tarde, quando Getúlio Vargas aprovou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Atuante na luta dos trabalhadores e uma das primeiras mulheres a se tornar dirigente sindical da categoria petroleira, Wanda Conti começou a trabalhar na Replan (Refinaria de Paulínia) ainda durante a inauguração, em 1972, como ajudante administrativo, passando por diversos outros setores e se aposentando em 1992.

Engajada, a petroleira participou do movimento grevista de 1978 e da fundação e direção do Sindicato dos Petroleiros de Paulínia (atual Sindipetro Unificado-SP) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), fundada após a greve de 1983 com a união de diversas categorias de servidores. “Estávamos pressionados pela ditadura, fomos obrigados a lutar com muita garra”, recorda.

Wanda comenta que, na época em que a CUT foi fundada, os trabalhadores eram mais unidos, independente da categoria, e isso sem dúvidas a fortaleceu e consolidou. “Não sei se por conta da pressão que os trabalhadores sofriam, mas naquela época muita gente participava das votações e discussões envolvendo a luta sindical. Foi um movimento enriquecedor para a classe operária”, destaca.

Para ela, o gênero foi mais um desafio dentro de um movimento majoritariamente masculino. “Naquela época, as pessoas só valorizavam o trabalho e posicionamento dos homens, me lembro de uma entrevista em que o jornalista disse que era importante ter uma mulher na direção sindical porque assim teria cafezinho e o sindicato estaria sempre limpo. Era como se fossemos um enfeite, um vaso de flor sob a mesa”, denuncia.

No cenário atual, Wanda acredita que o trabalhador está sem autoestima e não entende o seu valor. “Muitos trabalhadores ignoram que são pertencentes à classe operária e ficam com essa ideia fajuta de serem profissionais liberais”, afirma a aposentada.

Wanda aponta que o principal desafio a ser enfrentado é vencer o que Jair Bolsonaro representa. “A atual luta, acima de qualquer reivindicação direta, deve ser em prol da vida e da democracia, ou seja, contra Bolsonaro que está assassinando o povo brasileiro”, opina.

A aposentada acredita que a resistência deve ser acompanhada de assistência aos que são mais afetados pelo isolamento social e destaca o papel crucial do movimento sindical no Brasil atual. “Perseverança e união são fundamentais, na luta sindical aprendemos que devemos estar sempre de pé e de cabeça erguida. Não existe situação que não possa ser vencida”, afirma.