Mudança da embaixada Palestina causa problemas políticos, econômicos e religiosos

Por Norian Segatto

Ao declarar na campanha eleitoral que iria seguir a decisão do presidente estadunidense, Donald Trump, de transferir a embaixada de TelAviv (capital de Israel) para Jerusalém, o brasileiro Jair Bolsonaro tentou fazer um aceno ao governo dos EUA, dizendo: olha, voltamos a ser colônia dos seus interesses. Isso porque, efetivamente, não há nenhum benefício em transferir a embaixada brasileira de Israel para um local reconhecidamente árabe pelas Nações Unidas. É típica atitude de empregado que puxa o saco do patrão. Pelo contrário, o ato é uma afronta a tratados internacionais, que considera Jerusalém uma área independente. No caso da mudança da sede da embaixada, a resposta foi imediata.

Mas Trump e os EUA não são patrões do Brasil, e bravatas de campanha têm consequências quando quem as proferiu se torna presidente.

No caso da mudança da sede da embaixada, a resposta foi imediata. No dia 22 de janeiro, a Arábia Saudita descredenciou cinco frigoríficos brasileiros que exportam para aquele país. A retaliação, afirmou sem meias palavras o ex-secretário-geral da Liga Árabe (organização que  reúne 22 países árabes), Amr Moussa, durante o Fórum Econômico de Davos, se deveu em função do anúncio do governo brasileiro de concretizar a mudança da sede da embaixada.“O mundo árabe está enfurecido com o Brasil”, disse Moussa, um dos diplomatas do Oriente Médio de maior influência na região.

No dia seguinte, 23, o general Hamilton Mourão, na condição de presidente interino, fez questão de afirmar o contrário do que havia declarado o capitão presidente. “Nada disso, os dois estados (Palestina e Israel) são reconhecidos, o resto é retórica e ilação”, afirmou.

Anúncios e recuos se tornaram uma marca dos primeiros dias do governo Bolsonaro, mas nesse caso não se trata apenas de bate-cabeça entre interesses internos e vaidades pessoais, mas coloca em risco a economia do Brasil. O chamado “mundo árabe” conta com uma população de 400 milhões de pessoas e um consistente comércio com o Brasil, maior exportador mundial de carne Halal, isto é, com os animais abatidos sem sofrimento, seguindo os preceitos da religião muçulmana. Em 2017, as exportações de Halal renderam ao país receita de US$ 3,4 bilhões. Os países do Oriente Médio são responsáveis por cerca de 5% do total das exportações brasileiras, o que representou de janeiro a outubro de 2018 transações na ordem de US$ 8 bilhões.

 

Fator religioso

Além das questões econômicas, o anúncio da mudança da embaixada brasileira mobilizou as comunidades religiosas. Jerusalém é a terra sagrada pelas três principais religiões monoteístas: a cristã, a judaica e a muçulmana.

A Cidade Velha, um milenar labirinto de ruas e becos cercado por uma muralha é dividido em quatro bairros cristão, muçulmano, judeu e armênio.

O bairro judeu é onde se encontra do Muro das Lamentações, local sagrado de orações para o povo de Israel; no quarteirão cristão fica a Basílica do Santo Sepulcro, local que, de acordo com a tradição cristã, Jesus teria sido crucificado. Sua tumba está localizada dentro de um sepulcro, onde também foi o local de sua ressurreição.

O quarteirão muçulmano é o que ocupa a maior extensão territorial na Cidade Velha e onde se localiza a Cúpula da Rocha e a mesquita de al-Aqsa,o terceiro local mais sagrado no Islã. Os muçulmanos acreditam que o profeta Maomé viajou daqui para Meca durante sua jornada e orou com as almas de todos os profetas.

Esse convívio religioso torna Jerusalém patrimônio da humanidade e deve estar além de conflitos políticos imediatos, destacam diversas autoridades religiosas. Na semana passada, uma delegação de líderes católicos esteve no Brasil. Segundo Frei Bruno, guardião reitor da Basílica de Nazaré, o intuito da visita ao país foi o de “sensibilizar os cristãos da presença que estão na terra santa”. A delegação, juntamente com o embaixador do Estado da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, foram recebidos pelo vice presidente Mourão, que confirmou a intenção do Brasil respeitar o povo palestino e não mudar a sede da embaixada. Para Alzeben, a iniciativa das comunidades religiosas é importante para se ter uma paz duradora. “Confiamos no Brasil, nas autoridades e em seu povo, este grande país sempre esteve atrelado ao direito internacional e ao respeito de autodeterminação dos povos”, declarou à reportagem de Jornal Petroleiros.

Posts relacionados

5 livros sobre a questão Palestina

Maguila Espinosa

Genocídio em Gaza supera 100 dias sem perspectiva de paz

Maguila Espinosa

Nota: Pelo fim do genocídio palestino e pela paz no Oriente Médio!

Maguila Espinosa