Motoristas convivem com situações degradantes nos terminais da Transpetro em SP

Relatos apontam que empresa terceirizada não fornece água, escala trabalhadores em dias de folga sem aviso prévio e não paga horas extras

transpetro
Trabalhador assaltado em horário de serviço precisou comprar novo celular do próprio bolso e teve os dias descontados no ticket alimentação (Foto: Petrobrás)

Por Guilherme Weimann 

A reportagem do Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro-SP) recebeu uma série de denúncias de motoristas que trabalham em regime de turno nos terminais da Transpetro – subsidiária integral da Petrobrás.

Os trabalhadores são contratados da Tecline, uma empresa terceirizada responsável pelo transporte na unidade. Os relatos apontam uma série de irregularidades e situações degradantes pelas quais estão sendo submetidos nos últimos anos.

Apesar de serem contratados pela Tecline, os motoristas trabalham com veículos de outra empresa, a Vix. De acordo com os depoimentos, a frota disponível está envelhecida e não possui laudo técnico ou seguro.

“Somos obrigados a fazer a manutenção dos veículos da Vix, sem nenhum ressarcimento. Perdemos várias horas na revisão e manutenção, mesmo não sendo funcionários desta empresa. Além disso, se a Vix achar uma possível quebra no veículo isso é descontado dos nossos proventos”, relata um trabalhador que preferiu não ser identificado.

Os motoristas ainda são responsáveis por guardar os carros em garagens particulares, sem nenhum tipo de ressarcimento. E, quando não estão dirigindo, aguardam os chamados em contêineres sem água ou ar condicionado.

Abusos

Recentemente, um trabalhador foi assaltado durante o horário de trabalho. Levou duas coronhadas no rosto e, por sorte, não sofreu danos mais sérios porque a arma do assaltante falhou em duas tentativas.

“Fiquei alguns dias afastado e nem sequer foi aberto um CAT [Comunicado de Acidente de Trabalho] pela empresa. Nem um remédio me deram. Ainda por cima descontaram meu ticket alimentação pelos dias que fiquei parado. Fui obrigado a comprar um novo celular sem ter condições”, aponta o motorista que preferiu não ser identificado.

Os trabalhadores ainda relatam que a empresa os convoca em dias de folga, sem nenhum tipo de consulta ou aviso prévio. E, caso eles demonstrem algum tipo de negativa, são ameaçados de represálias – convivendo com o risco de demissão. Um dos condutores foi obrigado, inclusive, a trabalhar durante a licença médica, devido a uma cirurgia.

Apesar de todas essas irregularidades, os trabalhadores não recebem remuneração pelas suas horas extras há anos, de acordo com os depoimentos. Além disso, alguns deles não tiram férias desde 2017, já que são demitidos e recontratados pelas empresas que assumem novos contratos com a Transpetro.

“A prática na Transpetro desde o golpe, em 2016, e principalmente após a eleição do Bolsonaro, foi de sucateamento completo. Áreas como a operação e a manutenção tiveram redução drástica no número de trabalhadores. E os contratos com as empresas terceirizadas também tiveram cortes, o que acabou colocando em risco não apenas os motoristas como todos os trabalhadores próprios que utilizam desse serviço”, afirma o diretor do Sindipetro-SP, Felipe Grubba. 

O sindicato tem cobrado medidas da Transpetro para assegurar os direitos dos trabalhadores.