Por Norian Segatto
No início dos anos 1980, sob a ditadura militar de Pinochet, o Chile privatizou seu sistema previdenciário, mudando o modelo solidário para o de captação individual; é nele que o atual ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes, se espelhou para propor a nefasta reforma da Previdência. As consequências desse modelo já foram apresentadas em matéria publicada em 5 de novembro de 2018 no site do Sindicato (https://www.sindipetrosp.org.br/falencia-de-modelo-chileno-de-previdencia-aumenta-casos-de-suicidio-entre-idosos/).
A precarização dos empregos, a privatização da Previdência e da saúde e da educação, o alto custo de vida, agravado pela diminuição da massa salarial dos trabalhadores tornou o Chile um caldeirão prestes a explodir. É o que ocorre ao país vizinho neste momento.
No início da semana passada iniciaram diversos protestos de rua contra o aumento da tarifa de metrô, que, rapidamente, se transformaram em massivos movimentos contra o governo de Sebastián Piñera. Na sexta-feira, 18, mais de 80 estações de metrô foram depredadas, pelo menos 308 pessoas foram presas e houve dezenas de feridos nos confrontos de rua. Um incêndio em um supermercado saqueado deixou um saldo de três mortos.

O governo suspendeu o aumento das tarifas de transporte, o Exército ocupou as ruas da capital Santiago e decretou toque de recolher; o metrô não funcionou no final de semana e ninguém pode afirmar com certeza que rumos o país poderá tomar após a onda de protestos.
Quase vinte anos após a queda de Augusto Pinochet, o Chile ainda convive com as chagas provocadas pela ditadura; a previdência está falida (para a população, não para os fundos privados que administram o sistema), a educação pública é um fiasco, mais de 70% da população ganha menos de 770 dólares, escândalos envolvendo políticos e forças armadas vêm à tona quase diariamente. Às vésperas de sediar duas importantes reuniões internacionais, o Foro de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), em novembro, e a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP25), em dezembro, o Chile mostra o precipício que aguarda o Brasil à mercê da política bolsonarista.