Meia preta

Texto por P.T., da Replan 

Décadas atrás, quando o Coque começava a funcionar, havia um operador, já muito experiente na época, que tinha um ritual muito curioso ao colocar a “farda”. Antes de calçar as botas, pegava um rolo de papel e fazia rolinhos para colocar entre os dedos dos pés. Sempre da mesma forma, e depois os “enfaixava” com mais papel ainda. Ele, que trabalhava no setor em que o pessoal se autodenomina “meia preta”, dizia que aquela era a sua “meia descartável”.

A partir de então, passei a observar mais o colega e comecei a entender o porquê de tal ritual. Não é à toa que o pessoal desse setor tem o costume de usar meias pretas, pois há uma contaminação constante das botas e por consequência, das meias. Tentei fazer a minha primeira meia e todo o papel se desfez ao final do turno. Vi então que precisava ter mais treinamentos na confecção das meias de papel. Logo, o mais experiente ensinou todas as técnicas de sua obra de arte: não podia ter muito papel entre os dedos, os rolinhos tinham que ser compridos o suficiente para entrelaçarem-se entre todos os dedos, as voltas do enfaixar deveriam, além de seguir um sentido certo, ter um determinado número correto, senão, ao fim do turno a meia esfarelava ou o pé ficava engessado. Muitos conhecem ou viram esta obra de arte.

Sabemos que no passado os uniformes eram lavados por cada um em sua residência e que depois de certos debates e conscientização, a empresa resolveu impedir que as contaminações das fardas fossem levadas para casa dos trabalhadores, que é a atitude correta. Além do uniforme, sempre se cuidou para que todo material que porventura tivesse contato com produtos e/ou contaminantes fosse descartado. Nada temos a reclamar, já que luvas, óculos, protetores auriculares e respiratórios, inclusive botas e uniformes, sempre estiveram disponíveis para reposição. Nunca houve nenhuma pressão para que os materiais fossem reaproveitados.

Porém, a meia ainda chama a atenção! As botas, assim como as luvas, ou até mais, estão em contato com os produtos que por ora estão no chão. Só de entrar na CCL já sabemos por onde o colega andou. Apesar das botas serem impermeáveis, vapores e até mesmo respingos podem permanecer nelas. Como consequência, as meias acabam recebendo certa carga de contaminantes, até que sejam trocadas as botas. Assim, muitas meias contaminadas são levadas para casa. Sem contar que alguns colegas acabam reutilizando-as antes de levar para lavar.

Tendo isso em vista, a Reduc resolveu fornecer meias descartáveis (Ah, que inveja da Reduc!). E ainda tem a opção de escolher meia branca ou preta. Como queria que a Replan tivesse essa mesma preocupação com a saúde dos pés dos seus funcionários. E teria um custo irrisório perto do benefício. Não precisamos de argumentos técnicos para justificar tal investimento, basta colocar a bota no pé, dar uma voltinha na área, pisar em “pocinhas” e, ao se trocar no fim do turno, quem sabe, sentir o seu “chulé” e o dos companheiros.