Jacó foi ex-prefeito de Campinas (SP) e fundador do PT, da CUT e do Sindipetro-SP; velório contou com a presença do ex-presidente Lula e do ex-ministro Fernando Haddad
Por Guilherme Weimann
No final da tarde desta quinta-feira (26), o ex-prefeito de Campinas (SP), Jacó Bittar, foi enterrado no Cemitério de Sousas, após despedidas e homenagens prestadas por familiares e amigos no Velório do Cemitério da Saudade, ambos no município campineiro.
Marcaram presença no velório diversos familiares, amigos, políticos, sindicalistas e apoiadores. Entre eles, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que fundou junto com Jacó o Partido dos Trabalhadores (PT), em 1980.
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Também estiveram presentes o ex-ministro da Educação e candidato à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad (PT); o candidato à vice-presidência, Geraldo Alckmin (PSB); o ex-governador de São Paulo, Márcio França (PSB); e o prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos).
Jacó foi um dos fundadores do então Sindicato dos Petroleiros, em 1973, que posteriormente viria a se tornar o Sindipetro Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro-SP).
“É a perda de uma referência histórica. A maior liderança dos petroleiros, não apenas de Campinas, como nacional. Para mim, é uma pessoa que politicamente tinha uma leitura muito a frente do seu tempo, era um visionário e, por isso, nem todos conseguiam acompanhá-lo”, afirma o diretor do Sindipetro-SP, Jorge Nascimento.
Demitido da Petrobrás em 1983, após liderar a primeira greve nacional da categoria, Jacó fundou a Central Única dos Petroleiros (CUT), na qual se tornou o primeiro secretário de Relações Internacionais.
“Eu acredito que a alma, o espírito dele continua vivo em todos nós, petroleiros. Diversas diretorias já passaram por esse sindicato, mas o seu legado continua presente, seus ensinamentos e sua inquietação de construir uma sociedade melhor”, opina.
Histórico
Considerado um dos melhores articuladores políticos não apenas da categoria, mas de todo o movimento sindical, Jacó também colecionou histórias de descontração, incluindo rituais que perduram até hoje como marca dos petroleiros.
“O conhaque veio antes do sindicato ter uma sede. A gente morava em uma república com mais seis ou sete petroleiros e começamos a comprar conhaque. Depois, começamos a levá-lo para as nossas reuniões, que eram feitas no Largo do Rosário”, relembra Stefano Giuseppe Narici, um dos fundadores do Sindicato dos Petroleiros de Campinas ao lado de Jacó.
O ‘Doutor Pedro’, como o conhaque da marca Pedro Domecq é conhecido entre os petroleiros, tornou-se figurinha carimbada na categoria. “O Jacó sempre andava com uma nota alta de dinheiro na época, que hoje seria a de 100 reais, ou algo próximo disso. E quando a gente ia comprar Domecq, ele falava: ‘Alguém faz essa porque eu tô sem troco’. Se bobear, a nota deve tá sendo enterrada com ele hoje”, brinca o petroleiro aposentado Salvador Botteon.
Mas apesar dos momentos descontraídos, as amizades de Jacó se fortaleceram na luta. A principal delas foi a de 1983 – considerada a primeira greve nacional da categoria petroleira. Ocorrida simultaneamente na Refinaria de Paulínia (Replan), no interior paulista, e na Refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, durou seis dias e foi duramente reprimida pela ditadura militar. O saldo foram 205 petroleiros caçados na Bahia e 153 em São Paulo, incluindo Jacó Bittar.
“O Jacó é uma das pessoas mais importante da minha vida. Um verdadeiro pai para mim. E quando a diretoria foi caçada em 1983, em função da greve, nós montamos uma chapa e eu fui destacado para ser o novo presidente. Ficamos com o desafio de reconstruir o sindicato”, recorda Botteon.
Seu vínculo com Jacó, entretanto, não se limitou ao sindicalismo. Botteon, posteriormente, ocupou o cargo de chefe de gabinete na gestão de Jacó à frente do Executivo campineiro. “Eu sou suspeito, mas para mim o Jacó foi o melhor prefeito da história de Campinas. Ele ampliou o hospital Mario Gatti, inaugurou o hospital Ouro Verde, duplicou as estradas dos Amarais, revolucionou a Sanasa, fundou a Pedreira do Chapadão e plantou um milhão de mudas de árvores”, elenca.
Mas além de grandes obras, Botteon chama atenção para sua postura diante da população. “Um dia ele chegou na prefeitura e viu uma fila de pessoas esperando atendimento. Ele me chamou na hora e cobrou que a gente atendesse todo mundo e acabasse com aquela fila. No dia seguinte, ele chegou e a fila estava menor, mas ainda estava ali. Ele me cobrou de novo e disseram a ele que para acabar de vez com a fila seria necessário mobilizar todos os funcionários da prefeitura. Pois bem, foi o que ele fez”, recorda.
Jacó Bittar, que também era conhecido carinhosamente como ‘Turco’, foi enterrado ao lado da cova de Botteon. “Nós compramos [as covas] no mesmo dia. Ele vai fazer muita falta”, finalizou.