Incidente na Replan mostra o despreparo da gerência e a falta de pessoal

Era começo da tarde da quarta-feira, dia 1º, quando uma espessa nuvem de fumaça começou a sair pelas chaminés da Refinaria de Paulínia. A princípio pensou-se que se tratava de um problema originado por mais uma queda de energia, está é a terceira vez em menos de 30 dias que a Replan para por problemas técnicos.
A gigantesca nuvem formada pela mistura de gasolina, GLP e óleo diesel vaporizados, com alto grau de explosividade, logo se espalhou pelas redondezas. Muitos trabalhadores que estavam no local relataram para o Sindicato o medo e angústia que sentiram diante de uma tragédia iminente.
“Poucas vezes tive tanto medo de morrer e essa foi uma delas”, afirmou o técnico de Manutenção OLM, que sabia do perigo que a fumaça representava.
Durante mais esse acidente operacional, os dirigentes do Sindipetro Unificado foram impedidos de entrar na refinaria, mesmo após o fim da emergência, em uma conduta antissindical e suspeita da atual gerência. “O Sindicato foi barrado na entrada da refinaria. Por que não deixaram a gente entrar para apurar o que ocorria?”, questiona o diretor sindical Arthur Bob Ragusa.
Do lado de fora, e em contato direto com os trabalhadores dentro da refinaria, a direção do Sindicato levantou que a falta de ar comprimido, responsável pela operação de muitos equipamentos, ocasionou o descontrole da unidade de craqueamento (processo de quebra das cadeias de carbono do petróleo). O Sindicato quer acompanhar as investigações para saber as causas do acidente e as providências que serão tomadas para evitar novas ocorrências.
A falta de ar comprimido gerou uma perda de referencial no craqueamento e causou um processo chamado reversão, que faz com que a carga do reator desça, ao invés de subir. As válvulas controladoras, que são hidráulicas, não fecharam e todo o volume de gás e óleo pulverizados saiu na chaminé da caldeira e foi lançado na atmosfera em forma de uma nuvem escura e gigante.
“Essa nuvem é muito perigosa e caso encontre uma fonte de ignição pode haver uma grande explosão”, afirmou o coordenador da Regional Campinas do Unificado, Gustavo Marsaioli.
A nuvem escura se dissipava no ar há quase 30 minutos, quando a empresa tocou o alarme de evacuação das unidades. Os trabalhadores, muitos deles assustados, se deslocaram para áreas de segurança da empresa, chamadas de ponto de encontro. A situação foi controlada duas horas e meia mais tarde. O pessoal do administrativo foi liberado para voltar aos seus postos, mas a área operacional continuou esvaziada.
“Os operadores subiam e desciam da torre no meio da fumaça, sem equipamentos de proteção adequados, se tivesse havido um raio ou qualquer faísca teríamos um acidente de grandes proporções, e agora estaríamos contando corpos”, desabafa outro operador, que preferiu não se identificar.  Outros operadores também relataram os momentos de tensão que viveram e reclamaram da falta de atitude da gerência local, que deveria ter evacuado imediatamente o local.

Falta de pessoal
A situação grave e caótica escancara, mais uma vez, a incompetência da gerência da Replan e a ineficiência do estudo de Organização e Métodos (O&M) da Petrobrás, que implementou a redução do efetivo na Refinaria de Paulínia e em várias outras unidades do país. “A falta de efetivo amplia demais a dificuldade de controlar uma emergência e de ter sucesso nesse controle. O incidente de hoje é fruto da irresponsabilidade gerencial da Petrobrás”, declarou Bob Ragusa.