Ataques de Israel no território palestino já mataram mais de 26 mil pessoas e convertem a Faixa de Gaza em ruínas dia após dia
Por Marcelo Aguilar
Quando os ataques perpetrados por Hamas e demais organizações da resistência Palestina no Sul de Israel tomaram as manchetes do mundo inteiro, era provável imaginar que um massacre no território palestino viria como resposta. É o que marca a história. Mas a resposta de Israel supera o imaginável. Até o momento, desde o dia 7 de outubro de 2023, mais de 26 mil palestinos foram mortos, principalmente mulheres e crianças. Segundo as Nações Unidas, mais de 85% da população de Gaza foi deslocada à força, mais de 1,3 milhão de pessoas.
Relatores de Direitos Humanos da ONU alertaram no dia 16 de janeiro que Israel está utilizando a destruição do sistema de alimentação em Gaza e a falta de acesso à comida como arma de guerra contra o povo palestino: “Ações como bloqueio de acesso a terras agrícolas e ao mar, destruição de casas, bombardeios indiscriminados e colapso do sistema de saúde são apontadas como contribuintes para condições de fome, desnutrição, doenças e sofrimento generalizado da população em Gaza”. O grupo de especialistas apontou ainda que os habitantes de Gaza “representam 80% de todas as pessoas que enfrentam fome em todo o mundo, marcando uma crise humanitária sem paralelo”.
Limpeza étnica
Em novembro de 2023, o pesquisador Bruno Huberman, judeu especialista no processo de colonização judaica na Palestina, já afirmava ao Jornal dos Petroleiros que o que ocorria em Gaza era “um massacre” que tinha “como suposto objetivo impor uma derrota militar sobre o Hamas, mas que tem se revelado com o objetivo real de expulsar o máximo possível de palestinos”. Para Huberman, a limpeza étnica é o elemento central para entender essa situação. Mais de 100 dias depois, o pesquisador afirma que essa visão só foi reforçada: “surgiram diversas evidências, como a declaração do próprio primeiro-ministro reivindicando isso, diversos dirigentes israelenses e relatórios que foram vazados com a intenção de Israel de ‘afinar’ a população de Gaza de 2 milhões para menos de 200 mil, essa foi a metáfora que eles têm utilizado para expulsão em massa e punição coletiva”.
Para Huberman, “não apenas uma limpeza étnica está em curso, mas um genocídio através da destruição brutal, do assassinato indiscriminado de civis que a gente tem visto nos últimos meses. O que a gente observa é a continuação do processo de opressão e seu escalonamento, com a inação internacional, a exceção da demanda movida pela África do Sul, que pode de fato trazer transformações materiais imediatas, caso o Tribunal assim o entenda”.
Genocídio
O massacre conta com os Estados Unidos como principal fiador e detém também o apoio de países da União Europeia. Mesmo com protestos e ações de solidariedade ao redor do mundo, se desenvolvia com a passividade internacional, até que o governo da África do Sul tomou uma iniciativa histórica, elevando uma denúncia contra o Estado de Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, acusando o país de promover um genocídio sistemático contra o povo palestino. O governo do Brasil apoiou a iniciativa, somando-se aos países da Liga Árabe, diversos países africanos e países latinoamericanos como Colômbia, Bolívia e Venezuela.
As provas apresentadas incluem declarações de autoridades israelenses como o ministro da Defesa, Yoav Gallant, que justificou o ataque a Gaza por estar lutando contra “humanos animalescos” e do próprio primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, quando declarou a guerra total a Gaza. Os representantes sudafricanos também chamaram a atenção para a destruição total das estruturas de Gaza e a celebração disso por parte das forças israelenses, que têm transmitido diversas provocações nas redes sociais e colocado a bandeira israelense nos escombros. A defesa de Israel insistiu na comparação dos ataques de Hamas com o Holocausto judeu, e coloca o país no lugar de vítima, afirmando que “o único genocido foi o praticado por Hamas”.
Na audiência do julgamento, o embaixador sulafricano nos Países Baixos, Vusi Madonsela, afirmou: “A impunidade de décadas por violações generalizadas e sistemáticas dos direitos humanos encorajou Israel na sua recorrência e intensificação de crimes internacionais na Palestina”.
As perspectivas para a paz continuam sendo difíceis, e as palavras recentes de Netanyahu não trazem esperança nesse sentido: “Ninguém vai nos parar, nem a Corte de Haia, nem o eixo do mal, nem ninguém. Esse complô hipócrita em Haia contra o estado judeu ressucitou das cinzas do holocausto, por aqueles que querem criar outro holocasto contra os judeus”.