O candidato Jair Bolsonaro pode ser acusado de muita coisa, mas está dizendo claramente o que fará ao Brasil e aos trabalhadores: mais desmatamento da Amazônia, revisão dos livros escolares para retirar explicações sobre o período ditatorial, ameaça de fechamento do Congresso, prisão de ministros do STF; licença para a polícia matar (ainda mais) sem punição, extermínio físico de opositores, venda de empresas estratégicas, fatiamento e privatização da Petrobrás, entrega total do pré-sal, corte de direitos trabalhistas, saúde e educação privadas (com os petroleiros sem a AMS), armas para os ruralistas “se defenderem” etc. etc. etc.
Ao passo em que faz isso, anuncia a cúpula militar em postos chaves de um futuro ministério.
Ministério da Defesa : general Augusto Heleno Pereira, para quem “democracia é a pior ditadura” e que recebe a bagatela de R$ 59 mil mensais do Comitê Olímpico do Brasil, valor que ultrapassa em muito o teto permitido pela legislação.
Ministério da Educação : general Ribeiro Couto defende que os livros escolares devem contar “a verdadeira” história de 1964, ou seja, a versão dos militares. Defende, ainda, a volta de disciplinas como OSPB e Educação Moral e planeja criar escolas militares em todo o país.
Ministério dos Transportes : general Oswaldo Ferreira, que sente saudade da ditadura porque naquele tempo não havia “MP e Ibama para encher o saco”. Viva o desmatamento sem controle.
Por enquanto, nove generais e um brigadeiro atuam no núcleo de coordenação da campanha do candidato e na formulação de políticas.
Em declarações públicas cada vez mais autoritárias, esses militares passaram a atacar abertamente as instituições democráticas. Em comunicado ao general Villas Boas, seu colega de farda, Paulo Chagas, afirmou estar com a “espada ao lado, a sela equipada, no aguardo das ordens”.
Chagas chegou, também, a ameaçar o diretor do instituto de pesquisas Datafolha, Mauro Paulino. Segundo o general, se as pesquisas começarem a indicar o crescimento de Haddad, “teremos de pôr as barbas de molho”. Paulino usa barba e entendeu o “recado” como uma ameaça explícita.
Entre os generais, o candidato a vice presidente, Hamilton Mourão, é um dos mais animados a dar opinião sobre o que sabe e o que não sabe. Defende o fim das férias, do 13º salário e outros direitos. Bolsonaro já desautorizou suas declarações, mas parece ser apenas um jogo eleitoral, visto que o próprio capitão já defendeu que mulheres devem ganhar menos do que homens entre outras perigosas opiniões de quem pode ser o futuro presidente do país.
À beira de uma nova ditadura
Com um núcleo de poder sob comando militar, generais que querem intimidar o judiciário, ameaçam jornalistas e propõem mudar a história para esconder a tortura e os assassinatos do regime militar. Com uma mídia que se cala e cria uma narrativa de que está tudo bem e que o grande inimigo do povo se chama PT, fazendo crer que não havia corrupção antes de 2003 e que não haverá sob um eventual governo comandado por militares retrógrados.
O Brasil tem pouca tradição democrática, o período em que vivemos é o mais longo da história da República sem ruptura das instituições, e são apenas 30 anos.
Assim, quem tem até 40 anos de idade (grande parcela de nossa população) vive sob um frágil, mas constante regime democrático, abalado em 2016 com a deposição de uma presidente, e não tem na pele a lembrança do que é um regime militar, sua censura, o medo constante das pessoas, a insegurança.
Na ânsia criada por uma mídia conservadora (essa, sim, que sabe bem quem está colocando no poder e quais são seus interesses), parte da população busca o que parece ser a solução mais simples: um regime autoritário, que mande todos calar a boca e reprima os mais pobres. Mas não se engane: esses “mais pobres”, não são apenas os favelados, os nordestinos, os que estão desde sempre ferrados e mal pagos. Os “mais pobres” inclui você, trabalhador, que vive de salário, que pode ficar no olho da rua assim que um martelo for batido e uma shell da vida assuma a Petrobrás.
Quem já construiu ou reformou um imóvel sabe que é muito mais fácil destruir tudo do que erguer novamente. Em dois anos de golpe perdemos muito, em mais quatro de um governo fascista, perderemos muito mais, e levaremos algumas décadas para recuperar, com vários estragos que jamais serão recuperados. Talvez alguns de nós nem esteja mais vivo para ver esse dia, assim como os que sonhavam em 1964 acabar com a corrupção e o “espectro comunista” não viveram para ver a democracia ressurgir 21 anos depois.
Nesta semana que antecede a eleição do segundo turno vote com sua consciência, mas não vote contra você, contra seu emprego, contra seus direitos. Não vote contra a democracia, não permita que velhos generais levem o Brasil a 50 anos atrás. Vote pelo futuro, por tudo aquilo que você lutou e construiu. VIVA O BRASIL!