Mobilização integra a agenda de luta do Sindipetro Bahia contra a venda da Refinaria Landulpho Alves, oficializada esta semana pela direção da Petrobrás
Com informações do Sindipetro Bahia e Ineep
No início da manhã desta quarta-feira (10), petroleiros baianos iniciaram um ato no Trevo da Resistência, na BA 523, contra a privatização da Refinaria Landulpho Alves (Rlam) – a mais antiga e a segunda maior em capacidade de processamento de derivados da Petrobrás, oficializada nesta semana.
Participam da mobilização trabalhadores próprios e terceirizados da refinaria, além moradores, comerciantes e parlamentares dos municípios baianos de São Francisco do Conde, Candeias, Madre de Deus e São Sebastião do Passé, que serão afetados economicamente caso a venda da refinaria se concretize.
Greve
Diante do anúncio da conclusão das negociações para a venda da Rlam, localizada no município de São Francisco do Conde, no Recôncavo Baiano, os petroleiros se preparam para dar início a uma greve por tempo indeterminado. O movimento paredista já havia sido aprovado em assembleias que aconteceram em dezembro de 2020.
É importante ressaltar que apesar da conclusão das negociações, a venda da Rlam ainda não é um fato concretizado.
Nessas assembleias, a categoria autorizou o Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro Bahia) a organizar e iniciar a greve caso a Rlam fosse realmente privatizada. Fato que na iminência de acontecer, diante da rodada final da fase vinculante do processo de venda da refinaria, que será adquirida por um conglomerado árabe, o Mubadala Capital, pelo valor de US$ 1,65 bilhão.
“É importante ressaltar que apesar da conclusão das negociações, a venda da Rlam ainda não é um fato concretizado, já que a assinatura do contrato de compra e venda ainda está sujeita à aprovação dos órgãos competentes”, aponta em nota o Sindipetro-BA.
A diretoria do Sindipetro Bahia está organizando um seminário de qualificação de greve para planejar e escolher a melhor forma para encaminhar o movimento. Antes disso, o sindicato realizará setoriais com todas as turmas do administrativo e turnos da Rlam, assim como irá mobilizar os trabalhadores das outras unidades do Sistema Petrobrás.
Em cumprimento à lei de greve, o Sindipetro também irá notificar a Petrobrás com antecedência de 72 horas do início do movimento paredista.
Junto com a Rlam estão sendo entregues 669 quilômetros de oleodutos, que ligam a refinaria ao Complexo Petroquímico de Camaçari e ao Terminal de Madre de Deus, que também está sendo vendido no pacote que inclui ainda outros três terminais da Bahia (Candeias, Jequié e Itabuna).
Prejuízos
O coordenador do Sindipetro Bahia, Jairo Batista, chama a atenção para os prejuízos ocasionados pela venda da Rlam. “Será uma grande perda para a Bahia e para os municípios que têm nos royalties pagos pela refinaria uma das suas principais fontes de receita”, explica.
Já o diretor de comunicação da entidade, Radiovaldo Costa, ressalta as perdas para a categoria petroleira. “Os mais afetados serão os trabalhadores terceirizados, que hoje são aproximadamente 1.700. Esses devem perder seus empregos e poucos serão recontratados. Já os funcionários concursados, cerca de 900, serão transferidos para outros estados ou devem aderir ao Plano de Demissão Voluntária, oferecido pela estatal, mesmo sem ter tempo suficiente para aposentadoria. Enfim, será um grande baque para todos, inclusive com a fuga de capital para outros estados”, lamenta.
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O coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, que é funcionário da Rlam, ressalta a importância e o papel estratégico dessa refinaria na cadeia produtiva da Petrobrás. “A Rlam é responsável pela produção de 30% de todo óleo combustível e óleo bunker que está sendo exportado pela estatal e vem desempenhando um papel crucial para garantir a flexibilidade e resiliência da Petrobras nesse momento conturbado”.
Ao longo dos 70 anos de seu funcionamento, a Refinaria Landulpho Alves foi ampliada e recebeu bilhões de reais em investimentos, chegando a ser responsável pela produção de 30% da demanda do país e garantindo hoje o abastecimento da Bahia e outros estados do Nordeste.
Liquidação
De acordo com estimativas do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), o preço negociado pela Petrobrás para vender a refinaria é cerca de 50% inferior ao seu valor de mercado. De acordo com os cálculos dos pesquisadores, a Rlam está avaliada, de acordo com o câmbio atual, entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões, mas está sendo privatizada pelo montante apenas US$ 1,65 bilhão.
Para realizar o cálculo, o Ineep utilizou o método do Fluxo de Caixa Descontado (FCD), que se baseia no valor presente dos fluxos de caixa, projetando-os para o futuro. Do resultado, são descontadas da taxa que reflete o risco do negócio, das despesas de capital (investimento em capital fixo) e necessidade adicionais de giro.
“Os dados revelam que a Rlam tem um potencial importante de geração de caixa futura que, a depender das premissas utilizadas, pode estar sendo subvalorizada nesse momento de venda”, afirma o coordenador técnico do instituto, o economista Rodrigo Leão.