Editorial: Metralhadora giratória pode atingir aliados com balas perdidas

Para os petroleiros e petroleiras, o golpe de 2016 começou em 2014. A Lava Jato levou à crise do balanço da companhia, provocando uma mudança absoluta no seu planejamento e levando à construção da Pauta pelo Brasil pela FUP.

De lá para cá,  entramos em anos de resistência, procurando perder o menos possível. Levaram alguns anéis, mas mantivemos os dedos. Dedos que em grande parte fizeram o “L” no ano passado.  Durante a eleição,  sempre falávamos que a tarefa principal era estancar a sangria, parar de perder e interromper o crescimento do fascismo, para depois poder reconstruir.

Iniciamos a negociação com a atual gestão do Sistema Petrobrás em janeiro, na primeira reunião com o presidente da companhia,  Jean Paul Prates.  Fizemos 13 grupos de trabalho antes de iniciar oficialmente as negociações do ACT.

Ao  invés de mal ter um lugar digno para realizar as assembleias, voltamos a fazer nos lugares que sempre fizemos. No lugar da ameaça de retirada de direitos e arrocho salarial, iniciamos uma campanha com reajuste imediato da inflação e prorrogações do ACT. Ao invés de ameaças de “transição para a CLT” ou acordos individuais de trabalho,  no decorrer da campanha tivemos implementação das postergações das licenças maternidade para mães não gestantes e licença paternidade de 30 dias.

Durante o ano foi ficando cada vez mais evidente que mesmo dentro dessa nova gestão, mesmo entre os não bolsonaristas e com visão econômica desenvolvimentista, existe a turma do “eu mando e você obedece”, que está altamente incomodada com a força do movimento sindical petroleiro e tentou evitar ao máximo que essa última proposta sequer fosse apresentada. Essa turma não acredita que o trabalhador deva influenciar os rumos da Companhia.

Infelizmente,  a margem da vitória eleitoral, apertada, faz com que o  Governo  Federal tenha que fazer mais alianças para ter uma base sólida. Nós, trabalhadores e trabalhadoras, não devemos nos preocupar com isso? Quem senta na cadeira da Petrobrás não interfere na reconstrução desta gigante? Para quem e com quem deverá ser feita a reconstrução? O cenário nunca foi simples, e segue não sendo, embora seja infinitamente mais favorável.

Sabemos que não resolvemos tudo, mas este novo ACT possui avanços nos principais pontos da categoria e aponta caminhos para continuarmos buscando melhorias em questões estruturais que em grande maioria não são tratadas no ACT, como:  Plano de Cargos e progressão na carreira, Remunerações Variáveis (PLR e PPP) e Petros (que ganhará força no próximo ano), além de manter a disputa pelo custeio da AMS. Não sabemos se teremos mais um mandato progressista, portanto precisamos sim aproveitar cada ano, mas com estratégia e mirando nos alvos certos. Metralhadora giratória, às vezes, pode atingir aliados com balas perdidas.

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