Controle de mentes e corpos

Opinião: Cibele Vieira*

 

O filósofo Michel Focault ao abordar a transição do feudalismo para o capitalismo coloca o controle da vida das pessoas como um elemento central na estrutura de poder da sociedade atual: o controle dos instintos, dos impulsos, o controle dos corpos. Uma sociedade na qual as relações de dominação estão enraizadas nos mínimos detalhes da vida cotidiana. A incorporação do controle pelo subconsciente de cada um se dá, principalmente, pela repetição, padronização e sensação de uma vigilância constante. Ao mesmo tempo em que vivemos em uma época de valorização do individuo há uma certa negação da pessoa. Cada um de nós é apenas mais um trabalhador e nos é negado o direito à individualidade. A padronização da rotina tem como uma de suas finalidades igualar a todos pela regra determinada pela empresa – você não é uma pessoa com vontades próprias, é um colaborador, e durante o tempo que recebe para trabalhar está totalmente sob o controle da empresa –, veja que é para além de estar à disposição da empresa, é estar sob o controle dela. Todos têm que se vestir igual, comer igual, cortar o cabelo igual, barba igual, não é permitido nenhum item pessoal nas estações de trabalho, etc. Através do controle do nosso corpo injetam suas regras em nossas mentes e consolidam nossa posição de subordinação.

Outras organizações coletivas que lutam contra essa doutrinação são inimigas centrais. Quando interessa à empresa, as negociações e adesões são individuais, de acordo com a vontade de cada um, porém no dia a dia nos é negado, cada vez mais, qualquer manifestação da nossa individualidade.Essas estratégias são aplicadas por empresas mundo a fora, porém, é perceptível o aumento exagerado de regras disciplinares dentro da Petrobrás. Não é a primeira vez que isso acontece. Durante a ditadura civil militar há relatos da militarização da cultura organizacional da empresa. A disciplina militar treina pessoas para seguirem ordem independente de qual ordem seja. Porém, cada ação gera uma reação e, apesar de todo o debate da Revolução 4.0, ainda somos seres humanos e não robôs. A disputa do cotidiano está na pauta do dia para evitar as mobilizações contra a gestão da empresa e privatizações, mas pode ser um tiro no pé porque está elevando os ânimos e deixando evidente a necessidade de uma reposta coletiva a essa gestão de opressão.

Cibele Vieira é diretora do Sindipetro Unificado-SP e da Federação Única dos Petroleiros

 

Posts relacionados

Diretoria do Sindipetro Unificado toma posse em Campinas (SP)

Vitor Peruch

Unificado aprova pauta em defesa dos trabalhadores rumo ao CONFUP

Maguila Espinosa

“O principal desafio é fortalecer o coletivo”, afirma nova coordenadora do Unificado

Vitor Peruch