Conheça histórias de quem tem sentido no bolso o aumento do gás

Elevação dos preços chegou a 20% nos últimos dois anos e foi causada por uma mudança nas políticas de preços da Petrobrás

Por Guilherme Weimann

Uma mudança na política de preços da Petrobrás, que estabelece o preço dos produtos derivados do petróleo de acordo com valores cobrados internacionalmente, penalizou severamente a renda da população brasileira nos últimos anos. Além disso, a empresa tem subutilizado suas refinarias, que operaram com cerca de 70% da sua capacidade no ano passado, e importado os derivados de outros países.

De acordo com dados divulgados pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), os reajustes chegam a 20% desde 2017. Mas para entender melhor a dimensão desse impacto na vida das pessoas, a reportagem escutou um morador do município de Limeira, no interior de São Paulo, e uma moradora da cidade do Rio de Janeiro. Confira:

“O custo de vida aumentou e você tem que aumentar o preço da mercadoria também”

Leonildo Claro, 73 anos, padeiro de Limeira (SP). Foto: Divulgação

Praticamente todos os moradores do bairro Boa Vista, localizado no município paulista de Limeira (SP), já se depararam com Leonildo Claro. Isso porque há 20 anos ele oferece sua mercadoria de porta em porta: pães caseiros.

Antes

Em meados de 2017, a produção de Leonildo chegava a 500 pães por semana. O preço de cada unidade era vendido por R$ 8.  Ele recorda que na época pagava pelo botijão de gás entre R$ 38 e R$ 40.

Hoje

As vendas de Leonildo caíram para um média de 400 pães por semana e ele se viu obrigado a aumentar o preço de cada unidade para R$ 10. Um dos motivos foi o preço do gás, já que está desembolsando cerca de R$ 65 pelo botijão, uma elevação de 62%. Além disso, o padeiro afirma que as matérias-primas para fabricação dos pães subiram, assim como todo o custo de vida.

“Hoje em dia, as donas de casa precisam fazer malabarismos”

Sandra Maria Mesquita, 60 anos, dona de casa do Rio de Janeiro (RJ). Foto: Divulgação

Sandra Maria vive no bairro Anchieta, na zona norte do Rio de Janeiro, com seu marido. Além de cuidar das tarefas domésticas, também é responsável há alguns anos por cuidar da mãe idosa, que mora sozinha a poucos minutos da sua casa.

Antes

Há pouco mais de dois anos, antes dos aumentos do preço do gás de cozinha, Sandra pagava R$ 27 pelo botijão, que era consumido em média a cada dois meses. O mesmo acontecia para a casa da sua mãe.

Hoje

Atualmente, Sandra tem a sorte de seu marido ser amigo de infância de um entregador de gás, o que possibilita comprar o botijão por “apenas” R$ 65, para a sua casa e a da mãe. Os vizinhos que não têm a mesma sorte são obrigados a desembolsar R$ 70. Para economizar, Sandra tem utilizado diversas técnicas como cozinhar com a panela de pressão e fazer comida para durar dois dias. “Eu achei que como foi muito aplaudida a entrada de um certo presidente as coisas melhorariam, mas só piorou, é unânime”, opina.

Por que o preço do gás de cozinha disparou nos últimos anos?

Com a chegada de Michel Temer (MDB) ao governo, após o golpe de 2016, o conselho da Petrobras mudou o comando da companhia. Desde então, a Petrobrás passou a adotar uma política de preços dos derivados atrelada às variações do mercado internacional. Em relação ao gás liquefeito de petróleo (GLP), mais conhecido como gás de cozinha, essa mudança passou a ser adotada em julho de 2017.

Como resultado dessa medida, apenas nos seis primeiros meses houve um aumento de 37% do preço do GLP nas refinarias. Já nos postos de venda do botijão de gás, entre julho de 2017 e dezembro de 2019, o botijão sofreu um aumento de 20%, passando de R$57 para R$69, respectivamente, de acordo com dados divulgados pela Agência Nacional de Petróleo (ANP). No último sábado (8), a Petrobrás reajustou em 3% o preço do GLP, mas os preços médios ainda continuam no mesmo patamar dos praticados no final do ano passado.

“As pessoas perderam renda nos últimos anos por diversos motivos e, no mesmo período, houve aumento do preço do gás. Eu digo que essa combinação é explosiva porque você penaliza os mais pobres duas vezes. O botijão de gás ser comercializado a R$ 100 é um absurdo”, acrescenta Caranine.

Privatização

Em maio de 2019, a direção da Petrobrás anunciou que pretende vender oito refinarias até 2021. No mês anterior, foi a anunciada a venda da Liquigás, que é a subsidiária de distribuição de botijões de gás. As duas medidas têm impacto direto no preço do gás de cozinha que chega ao consumidor.

“O atual presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco está mentindo para a sociedade brasileira quando diz que se privatizar vai baratear o preço para o consumidor. Isso é mentira. Com a política da Petrobras, desde 2016, estamos vendo que o preço dos derivados não para de aumentar e se concluírem a venda das refinarias vai aumentar ainda mais”, explica o coordenador geral da Federal Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel.

Você sabia?

Entre 2016 e 2018, o número de famílias brasileiras que utilizam lenha para cozinhar pulou de 11 milhões para 14 milhões, um aumento de 27%. No Sudeste, o crescimento foi de 60%. No mesmo período, a taxa de desemprego no país passou de 11,5% para 12,3%., segundo IBGE.

 

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