Após ações estaduais, dirigentes do Unificado apontam sucesso também do encontro nacional
*Com informações da FUP
As limitações impostas pela pandemia da covid-19 têm exigido criatividade das organizações sindicais na relação com as categorias e feito com que sindicatos e federações busquem alterativas para a realização de atividades obrigatoriamente coletivas como assembleias e congressos.
Mas, se por um lado, o papo nos bastidores, a confraternização e a troca espontânea de experiências regionais fez falta, por outro, as atividades transferidas para o ambiente digital permitiram que um número maior de trabalhadores e trabalhadoras acompanhasse os debates.
Para o diretor do Sindipetro-SP (Sindicato Unificado dos Petroleiros de São Paulo), Arthur Bob Ragusa, tanto o congresso estadual do sindicato quanto o 18º Confup (Congresso Estadual da Federação Única dos Petroleiros), realizados em junho e julho, conseguiram um alcance única na história.
“Nunca conseguimos fazer um encontro tão aberto para a base. Antes, quem não poderia estar presente acompanhava o que foi discutido pelas matérias publicadas. Agora, qualquer um consegue entrar nas lives e saber o que pensam os petroleiros e petroleiras. Além de termos avançado na discussão de temas como o racismo e a masculinidade tóxica, com o objetivo de reconstruir o homem num mundo mais solidário, harmônico e menos opressivo”, definiu.
Para ele, a amplitude e o caráter democrático do Confup, que reuniu 272 delegados e delegadas, além de 40 suplentes e 32 observadores entre os dias 15 e 17 de julho, resultaram naquilo que definiu como um maior amadurecimento da categoria.
“Tiramos uma pauta mais enxuta, que foca menos na briga por direitos e benefícios e mais na gestão da Petrobrás e isso é muito difícil. Em 2015, por exemplo, quando tiramos a Pauta elo Brasil, que quis tratar da orientação da empresa, foi difícil convencer os trabalhadores de que era preciso ir além da campanha salarial”, define Ragusa.
Base firme nos estados
Na proposta fechada pelo Confup, que estabelece a pauta de reivindicações a ser negociada nacionalmente com a Petrobrás, estão temas como a o regramento das tabelas de turno no ACT (acordo coletivo de trabalho), a defesa da Petros e da AMS (assistência médica de saúde), a suspensão das punições e perseguições políticas por participação nas greves de 2019 e fevereiro de 2020 e a garantia de emprego, Além da reposição das perdas salariais e, como luta prioritária, barrar as privatizações em curso no Sistema Petrobrás em uma campanha formatada com o nome “Fica Petrobrás” e que englobará diversas frentes de luta em parceria com outras categorias e movimentos sociais.
Todos itens que estiveram presentes e foram aprovados pelo Unificado no Congresso que reuniu petroleiros de São Paulo, Pernambuco e Paraíba entre os dias 25 e 27 de junho.
Diretora do Sindipetro-SP, Cibele Vieira aponta que a pauta tirada pelo sindicato foi praticamente toda aprovada ou referendada, passando por uma ampliação na discussão de temas centrais.
“Todas as mediações que têm sobre tabela de turno, a própria questão de como discutir o turno de 12 horas com a categoria para que a empresa não imponha unilateralmente, uma forma de regrar o banco de horas sem que isso represente pagamento de horas sem adicionais foram contempladas no Confup. Além de pontos ligados à Petros, do equacionamento, da luta contra o PP3, da luta contra a privatização da AMS, de colocar um freio na migração para outro plano e na criação de uma fundação, garantindo um plano auto gerido por nós e não do mercado”, explicou.
Cibele cita ainda o regramento do teletrabalho como outro aspecto que estava ausente em pautas anteriores e cujas discussões dentro do Confup partiram das propostas levadas pelo Unificado.
“Foi definida uma pauta bem completa do que seria o regramento de regime de trabalho, que deve ser uma das principais luta nossas no próximo período, e que pegou como base as questões aprovadas no nosso congresso, ampliando, detalhando e deixando mais completo. Nossas resoluções serviram de base inicial para vários grupos de debate, nossas preocupações foram contempladas e a forma de detalhar mais cada ponto foi melhorada no processo de construção nacional em conjunto com outros sindicatos”, avaliou.
Para Bob Ragusa, o processo de adaptação neste novo cenário laboral também exigirá dos sindicatos uma atualização na forma de atuar junto às bases.
“Estamos adaptando nossa lógica para atuar de uma forma mais virtual. O contato ainda fará parte, os laços, mas o processo virtual veio para ficar e não será apenas no período da pandemia. Temos duas grandes tarefas, entrar na casa das pessoas, mesmo com objetos que tenham uso no cotidiano e que reforçam o papel do sindicato e da FUP, num momento em que a casa se confunde com o ambiente de trabalho, e construir um território virtual de encontro que tenha densidade e seja visto como legítimo e sério.”