Três anos após o maior crime socioambiental da história do país, na região da cidade mineira de Mariana, mais uma barragem da empresa Vale se rompeu na sexta-feira, dia 25, dessa vez em Brumadinho, na Grande Belo Horizonte, provocando uma tragédia em proporções ainda maiores. Estima-se que 12 milhões de m³ de rejeitos foram despejados no Rio Paraopeba, um dos principais afluentes do São Francisco. Até a noite de domingo, havia a confirmação de 58 mortes e 305 desaparecidos. O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) denunciou a omissão das autoridades e declarou que o rompimento era uma “tragédia anunciada”, fruto da privatização e da busca pelo lucro sem compromisso social e ambiental.
Há anos, o MAB, ao lado de ambientalistas e ativistas, vem denunciando o risco de rompimento de barragens no Córrego do Feijão, em Brumadinho. Mas o Conselho Estadual de Política Ambiental não deu ouvidos às comunidades e, em dezembro do ano passado, autorizou o poder corporativo a ampliar o complexo. “Esse rompimento é o resultado de um modelo de mineração que é privatizado e transnacional, inteiramente à serviço do lucro das grandes empresas, contra os direitos dos trabalhadores e das comunidades, portanto, essa tragédia é mais um resultado deste modelo de morte”, afirmou o coordenador estadual do MAB em Minas, Thiago Alves.
A Vale do Rio Doce, responsável pela barragem, foi privatizada por Fernando Henrique Cardoso em 6 de maio de 199. “A privatização da Vale foi um atentado à economia nacional”, afirma o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, Gilberto Maringoni. Segundo ele, depois da privatização, a Vale foi reduzida a uma mineradora, especialista em cavar buraco. “A Vale só pode deixar de ser uma empresa de baixa eficiência e danosa ao meio ambiente se for estatal e se estiver articulada com um projeto de desenvolvimento”, declarou.
Modelo perverso
Em nota, a Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) e a Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Geografia (Anpege) teceu fortes críticas ao “perverso modelo socioambiental de exploração mineral que faz parecer acidente natural um conjunto de crimes e catástrofes”.
“Este crime ambiental de responsabilidade da Empresa Vale S.A. – e compactuado por um Estado brasileiro subserviente à lógica do capitalismo neoliberal/neoextrativista – é mais uma violação provocada pela destrutiva submissão dos bens naturais pertencentes à toda sociedade aos interesses empresariais”, diz o informe.
Impunidade
A tragédia em Brumadinho acontece três anos e dois meses após o rompimento de uma barragem da Samarco em um distrito de Mariana, também em Minas Gerais. A Vale é uma das controladoras da Samarco e responsável pela barragem do Córrego do Feijão. Dezenove pessoas morreram em 2015. O rastro de lama destruiu comunidades, como Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, impactou cidades mineiras e capixabas e devastou o Rio Doce.
“A impunidade do crime de Mariana dá mais espaço e oportunidade para outros crimes. A forma com que as empresas atuam, especialmente a Vale no contexto do crime na Bacia do Rio Doce, e como a Justiça brasileira atua do lado das empresas, cria espaços e oportunidades para mais tragédias”, argumenta o representante do MAB.