Na última semana, súdito do agora ex-ministro do Meio Ambiente mandou cortar 43 árvores do Terminal da Transpetro em Barueri
Bronca do Peão*
Na quarta-feira (23), caiu o 16º ministro do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), iniciado em 2018. Ricardo Salles pediu demissão após comandar por dois anos e meio uma das piores gestões da história do Ministério do Meio Ambiente. E, infelizmente, parece que ele deixou uma legião de seguidores no Sistema Petrobrás – mais especificamente na Transpetro –, como relatarei neste desabafo em forma de artigo.
Mas, antes, é importante recordar um pouco da gestão do ex-ministro do Meio Ambiente. À frente da pasta, Salles protagonizou retrocessos ainda incomensuráveis em relação à defesa do meio ambiente e aos direitos das comunidades tradicionais – especialmente os povos indígenas.
Menos de dois meses depois de assumir como ministro, Salles exonerou 21 dos 27 superintendentes do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) – em 2020, foi a vez do diretor de Proteção Ambiental do órgão, Olivaldi Azevedo. Além disso, no aniversário de 100 dias do governo, Bolsonaro assinou um decreto que flexibilizou a cobrança de multas por crimes ambientais – o que, dentre outras medidas, ocasionou uma queda de 34% na aplicação de multas no ano de 2019.
Depois de trocar toda a diretoria do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) por policiais militares, o então ministro também anunciou a revisão de todas as 334 áreas de conservação do país, já que algumas delas teriam sido criadas “sem nenhum tipo de critério técnico”.
E, como não poderia ser diferente, o desmatamento na Amazônia, em 2020, foi o maior dos últimos 12 anos. De acordo com o Instituto Socioambiental (ISA), a degradação em unidades de conservação e terras indígenas aumentou 48,31%.
A lista é extensa e não caberia em texto que pretende ser sucinto, mas é impossível deixar de fora a máxima – que resume de forma exemplar a gestão de Salles à frente do Ministério do Meio Ambiente – de que o governo deveria se aproveitar da pandemia de covid-19 para “ir passando a boiada”.
Legado maldito
Em 2019, Salles foi desastroso na gestão da crise provocada pelo óleo que atingiu o litoral nordestino. Após responsabilizar a Venezuela pelo desastre, o então ministro insinuou que a ONG Greenpeace tivesse provocado um vazamento intencional na costa brasileira: “Parece que o navio do #greenpixe estava justamente navegando em águas internacionais, em frente ao litoral brasileiro bem na época do derramamento de óleo venezuelano”, escreveu no Twitter.
Apesar de não ter nenhuma relação com o caso, a Petrobrás mobilizou 1,7 mil agentes ambientais para a limpeza de praias das praias, o que resultou na retirada de 200 toneladas de resíduos.
Embora a estatal tenha essa importância estratégica, houve um corte de 73,9% das verbas ambientais e consequente redução da capacidade de monitoramento da empresa. Como noticiou reportagem do Sindipetro-SP, essa diminuição dos investimentos se insere na atual política de desmonte, com uma sistemática política de privatização de ativos.
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Com isso, aumentarão os riscos de acidentes e diminuirá a capacidade de resposta imediata na contenção dos danos. Em meio a esse cenário catastrófico, a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) anunciou, em março deste ano, que irá licitar a exploração de petróleo na Bacia Potiguar – região do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha e da Reserva Biológica do Atol das Rocas.
Mas isso não é tudo. O bolsonarismo, incluindo o “sallismo”, vai além das políticas nacionais (des)coordenadas pelo governo federal. É próximo de um novo modo de (não) pensar, que se incrusta como cola no córtex cerebral de seus apoiadores.
Nesse contexto, infelizmente, Salles parece que deixou um legado maldito que se disseminou por todo o campo social, incluindo um Erval (alô Peão Refinado) do Terminal da Transpetro em Barueri (SP).
O cidadão, acredito que já prenunciando a deposição de seu grande ídolo, resolveu cortar – sem nenhuma explicação – 43 árvores da unidade, incluindo abacateiros, jacarandás e pinheiros. “Eu ainda vou acabar de cortar todas as árvores”, afirma de forma sádica em alto e bom som pela unidade.
Eu nem quero pensar se outros Ervais do Sistema Petrobrás seguirão a mesma lógica – dependendo da unidade, o estrago pode ser bem maior. Por isso, se não tirarmos todo esse governo – incluindo os militares – continuaremos lembrando do Salles por muito tempo.
*O autor do texto preferiu não ser identificado.