Ainda há sub-representação de negros na Petrobrás

O balanço social de 2017 da Petrobrás apresenta que apenas cerca de 5% da força de trabalho da empresa é composta por pessoas negras. Quando o recorte se dá entre os cargos gerenciais, a diferença é ainda mais profunda: entre 4832 gerentes, apenas 111 são negros – 2% do total. Já 63,8% dos cargos de gerência são ocupados por brancos.
Esses números contrastam com a formação étnica brasileira. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2016, do IBGE, 44,2% da população são formados por brancos, 46,7% por pardos e 8,2% por negros.
Para o diretor do Unificado e técnico da Replan, Jorge Nascimento, a menor taxa de entrada e ascensão em uma empresa de ponta como a Petrobrás tem a ver com a diferença de oportunidades de estudos. Eu fiz colégio técnico e era um dos poucos negros da escola, fica óbvio que o menor acesso a esse tipo de ensino vai influenciar na hora de prestar concursos como o da Petrobrás. Várias das pessoas que estudavam comigo hoje trabalham aqui”, analisa Jorjão, como é conhecido. “Aqui na Replan temos apenas um negro em cargo de liderança”.

Defasagem histórica
Não é necessária grande análise sociológica para perceber a extensão do problema, os números falam por si: do total oficial de desempregados no terceiro trimestre de 2017, 63,7% eram negros ou pardos. Para o coordenador de trabalho e rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, esses indicadores revelam o tamanho da desigualdade do mercado de trabalho brasileiro. “Entre os diversos fatores estão a falta de experiência, de escolarização e de formação de grande parte da população de cor preta ou parda. Isso é um processo histórico, que vem desde a época da colonização. Claro que se avançou muito, mas ainda tem que se avançar bastante, no sentido de dar à população de cor preta ou parda igualdade em relação ao que temos hoje na população de cor branca”, avalia Azeredo.
O Brasil foi o último país a abolir a escravidão, oficialmente em 13 de maio de 1888, após mais de 300 anos de mercado escravo, no qual todos os direitos a essa população eram negados. No decreto 1331 de 1854, que estabelecia a reforma do ensino primário e secundário, era vetado a negros escravos frequentarem a escola (confira a íntegra do decreto em http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-1331-a-17-fevereiro-1854-590146-publicacaooriginal-115292-pe.html).

Preconceito não explícito
Jorjão afirma nunca ter sofrido diretamente preconceito em seus 12 anos de empresa, mas convive com piadinhas bestas e comentários “inocentes” aqui e acolá.
Para ele, não se trata de “vitimização” dos negros, como afirmou o presidente eleito em mais uma de suas manifestações racistas, mas da constatação da realidade: “Existe na Petrobrás uma subrepresentação racial, negros e pardos formam a maioria da população brasileira, mas na empresa são minoria em relação aos brancos”. Conforme o balanço de 2017, cerca de 54% da mão de obra é formada por brancos. “Essa distorção”, continua Jorge Nascimento, “também se observa no movimento sindical, ainda há poucas lideranças negras”.

Percepção da realidade
Conforme estudo realizado em 38 países pelo Instituto Ipsos Mori, divulgado em dezembro de 2017, o Brasil ocupa o segundo lugar entre os países cuja população tem uma percepção equivocada sobre a realidade. Essa percepção se dá, segundo o estudo, pela familiaridade com temas como segurança, saúde, religião e tecnologia.
Essa falta de percepção leva a fenômenos como o da última eleição, em que um candidato com longo histórico de declarações racistas recebe o voto de grandes parcelas de negros.
“A história do Brasil é repleta de exemplos de ‘capitão do mato’, que na época da escravidão era o negro destacado pelo senhor branco para perseguir os da sua própria raça. Hoje temos o caso de um vereador em São Paulo, o Fernando Silva, que se auto intitula Fernando Holiday; negro, homossexual e militante de um grupo de extrema direita”, afirma Jorjão.
O atual cenário de intolerância é também um tema que preocupa Jorjão. “Por ser negro e de esquerda é óbvio que fico receoso com os tempos atuais, mas me preocupo ainda mais com meu filho. Por eu ser petroleiro ele tem condições de estudar em uma boa escola particular, que certamente terá maioria branca e não sei como será para ele com o aumento da intolerância racial e das manifestações de ódio, espero que nossa sociedade supere isso em breve e se torne exemplo de respeito e tolerância”.

Posts relacionados

Bases do Sindipetro Unificado aprovam por 72% Acordo Coletivo 2023-2025

Maguila Espinosa

EDITAL DE CONVOCAÇÃO DE ASSEMBLEIAS – CAMPANHA REIVINDICATÓRIA

Ademilson Costa

Sindipetro convida petroleiros para festas de fim de ano em São Paulo, Mauá e Campinas

Vitor Peruch