Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
Segundo a bióloga da Fiocruz Márcia Chame, o aumento dos casos suspeitos de febre amarela em Minas Gerais pode estar relacionado à tragédia de Mariana, em 2015, quando 55 milhões de m³ de lama vazaram da barragem de Fundão após seu rompimento. Grande parte das cidades mineiras que identificaram casos de pessoas com sintomas da doença estão na região próxima ao Rio Doce, local onde a barragem foi rompida.
“Mudanças bruscas no ambiente provocam impacto na saúde dos animais, incluindo macacos. Com o estresse de desastres, com a falta de alimentos, eles se tornam mais suscetíveis a doenças, incluindo a febre amarela”, afirmou a bióloga ao jornal O Estado de São Paulo.
Embora não seja o único motivo que possa ter contribuído para os casos, Márcia destaca que a região já sofria grandes abalos ambientais provocados pela mineração. “É um conjunto de coisas que vão se acumulando”, disse.
A bióloga explica que ao picar um macaco contaminado, o mosquito recebe o vetor da febre amarela (Haemagogus), que passa a transmiti-lo nas próximas picadas. Quando um ser humano sem estar vacinado é picado, começa a fazer parte do ciclo. Essa corrente aumenta quando animais, por desequilíbrios ambientais, deixam seus ambientes e passam a viver em áreas mais próximas de povoados ou cidades. “Com o desmatamento, animais também se deslocam, aumentando o risco de transmissão.”
Alterações na forma de contágio
Uma vez infectada, a pessoa pode, ao retornar à cidade, servir como fonte de infecção para o mosquito Aedes aegypti, que então pode iniciar a transmissão da febre amarela em área urbana.
Uma pessoa pode ser fonte de infecção para o mosquito mesmo antes de surgirem os sintomas, até o quinto dia da infecção.
O Aedes aegypti é uma arma biológica terrível. Ele torna-se capaz de transmitir o vírus da febre amarela 9 a 12 dias após ter picado uma pessoa infectada.
Protegido pelo ambiente urbano, onde vive, será o grande transmissor também deste mal.
No Brasil, a transmissão da febre amarela em áreas urbanas não ocorria desde 1942. O rompimento da barragem de Fundão provocou destruição ao longo de toda a bacia do rio Doce, chegando ao mar, no município de Linhares/ES.
Houve perdas de vidas humanas, poluição e contaminação de recursos hídricos (córrego Santarém, rio Gualaxo do Norte, rio do Carmo, rio Doce e seus afluentes, regiões estuarina, costeira e marinha), do solo, do ar e do meio ambiente cultural.
Há precedentes no mundo
Pesquisas recentes sugerem que barragens na África subsaariana são responsáveis por “pelo menos 1,1 milhão de novos casos africanos de malária todo ano”, relatou Joby Warrick do Washington Post no ano de 2015.
Na bacia do Rio Senegal, na África Ocidental, em 1987, houve uma grande epidemia de febre do Vale do Rift. O surto deveu-se a “uma série de modificações ecológicas no rio instituídas pelos governos da Mauritânia e do Senegal em cooperação com programas patrocinados internacionalmente”, o que incluía duas barragens, como relatou Kenneth J. Linthicum e seus colegas, do Centro de Entomologia Médica, Agrícola e Veterinária do Departamento de Agricultura dos EUA, ao Post.
E o que é válido para as represas também é para o corte e queimada de florestas, igualmente envolvidas no aumento de transmissão de doenças para humanos.
Chelsea Harvey, repórter do Washington Post, também mostrou como o desmatamento na Malásia parece ser outro principal elemento para a transmissão de malária, na medida em que serviu para aproximar humanos e macacos, permitindo que os mosquitos ajam como intermediários entre os dois, transmitindo a doença.
As áreas desmatadas tendem a ser mais quentes, por conta da ausência de árvores, que diminuem a temperatura, e essas temperaturas mais altas podem afetar partes cruciais do ciclo de vida do mosquito.
(Para ler o artigo completo acesse http://www.ambientelegal.com.br/lama-da-samarco-e-o-surto-de-febre-amarela)
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é jornalista e advogado