Para Antônio Carlos Spis, o resultado de uma manifestação não é imediato e deve ser analisado sob o peso da história

Quando não se alcança a pauta de reivindicações, a greve foi derrotada? Ao avaliar um movimento apenas com um olhar pragmático, a resposta tende a ser ‘sim’.
Mas o petroleiro aposentado Antônio Carlos Spis, coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP) na histórica greve de 1995, tem outra visão.
Para ele, somente o tempo é capaz de definir o sucesso de uma paralisação, que muitas vezes tem o papel de demonstrar a força da categoria, ainda que não tenha alcançado o objetivo ao qual se propôs.
Em entrevista publicada na edição comemorativa do Jornal dos Petroleiros de um ano da greve de 2020, Spis ressalta as vitórias que sucederam a greve e aponta o trabalho fundamental de base para alimentar uma mobilização.
A greve de 2020 não conseguiu impedir o fechamento da Fafen-PR e a demissão dos trabalhadores. Isso faz dessa mobilização uma derrota?
Antônio Carlos Spis – Em 1995, a imprensa e o governo caíram matando dizendo que fomos derrotados, mas o tempo provou que não. Conseguimos garantir a Petrobrás como empresa pública e uma ação que diferenciava o capital público do privado impediu o Fernando Henrique [então presidente do Brasil] de privatizar a companhia. A força da nossa mobilização não deu segurança para o governo tocar o projeto. Todas as nossas reivindicações, que não saíram no momento da paralisação para o governo dizer que não aceitou, recebemos depois. Voltamos com todos os demitidos, nenhum sindicato nosso foi fechado e garantimos um documento trabalhado pelo Suplicy (Eduardo Suplicy, então senador e atual vereador de São Paulo), assinado por todas as lideranças da Câmara e do Senado, que mantinha a continuidade da negociação após a paralisação. Nosso movimento foi em maio e junho e em setembro conquistamos o maior reajuste das empresas e bancos públicos na data-base.
Você acredita que a greve de 2020 foi vitoriosa?
Derrotada certamente não foi, a direção está unida e a empresa não consegue deixar de negociar conosco porque sabe que conseguimos mobilizar. Eu acredito numa frente ampla de esquerda, mas antes é preciso fazer a luta. Primeiro fazemos uma greve na categoria, depois pedimos apoio. Primeiro, o movimento sindical faz a sua parte. O caminho é aglutinar forças.
Como você explicaria para um petroleiro que chega agora na Petrobrás qual o papel de uma greve?
O primeiro papel é sempre de defesa da empresa, principalmente uma empresa pública, de economia mista. E de direitos dos trabalhadores. O trabalhador deve olhar para o sindicato e enxergar uma entidade que o defenda. A confiança se conquista indo no local de trabalho e demonstrando ser firme pelas ações que pratica, mesmo com a terceirização, que já existia no meu tempo, quando eram 40 mil petroleiros e 120 mil terceirizados, que sofrem maior risco de demissão. Mas para isso tem de ter políticas que abracem esses companheiros mais vulneráveis.