Para representante da Consulta Popular, trabalhadores e trabalhadoras da Petrobrás serão o diferencial para definir a resistência ao programa antipopular encampado por Bolsonaro
Por Luiz Carvalho
A greve dos petroleiros e petroleiros que mobilizou 20 mil trabalhadores em 120 unidades do Sistema Petrobrás entre os dias 1º e 20 de fevereiro escancarou a importância da única categoria capaz de parar hoje a produção do país e enfrentar o programa antinacionalista encampado pelo governo Jair Bolsonaro.
A avaliação é do advogado e membro da direção nacional da Consulta Popular, Ricardo Gebrim, que participou da primeira reunião de direção do Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo, nessa segunda-feira (9), na capital paulista, após o fim da paralisação.
Segundo ele, o cenário que deu coesão à burguesia unificou a debandada das grandes empresas do programa neodesenvolvimentista aplicado pelos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, após a devassa promovida pela Lava-Jato, e a possibilidade de ganhos a partir dos ataques aos direitos.
Ficou nítido, avaliou, que a nova investida dessa burguesia afinada com interesses do capital estrangeiro partiria de um programa que abateria direitos trabalhistas e sociais como previdenciários, enfraqueceria sindicatos e abriria espaço para ganhar a partir da fragilidade da classe trabalhadora.
Para aplicar tal pacote, o representante escolhido foi Jair Bolsonaro, que tem como missão primordial fatiar o patrimônio nacional e entregar aquilo que chamou de jóias da coroa, ou seja,a Petrobrás e o setor elétrico.
Na visão de Gebrim, porém, Bolsonaro esbarra na mobilização da categoria petroleira, a única, analisa, capaz de resistir a essa pauta de retrocessos.
“Os petroleiros são a única categoria capaz de parar a produção no país, o único pólo da classe operária capaz de romper com a unidade da burguesia e exerce o mesmo papel que os metalúrgicos durante os anos 1970 durante a ditadura. De aglutinar os anseios e desejos daqueles que dividem os mesmos valores, mas não podem fazer greve”, define.
Cenário de obstáculos
A realidade que se coloca diante dos trabalhadores e trabalhadoras do setor do petróleo, porém, não é nada simples perante a unidade do programa ultraliberal que avança com os ataques aos direitos trabalhistas e mira a organização sindical.
Assim, o trabalhador vê o emprego minguar, o salário derreter e observa a perda de conquistas históricas, ao mesmo tempo em que encontra dificuldades para obter apoio e enfrentar os empregadores devido a sindicatos fragilizados por medidas que sufocam as ações sindicais e o financiamento das entidades.
Para um governo que se alinha a um movimento neofascista e tem como pilares de sustentação representantes das igrejas neopentecostais, altamente influentes no país, e dos militares, a popularidade é apenas um detalhe, já que o objetivo é governar para uma base social específica.
Fazendo referências e comparações com a trajetória de Benito Mussolini, na Itália, e Adolf Hitler, na Alemanha, Gebrim ressaltou que Bolsonaro só tem valor para a burguesia como representante de um programa. E pode, inclusive, deixar de ser útil quando esse projeto não for mais passível de ser aplicado.
“Por isso Bolsonaro não governa para a nação, mas para sua base social e dialoga fortemente com questões morais, ainda que sejam uma cortina de fumaça para conseguir legitimar o programa do qual é representantes”, diz.
A disputa é como um jogo de xadrez e exige muita inteligência, unidade e inteligência à esquerda para que saiba quando avançar já que, por um lado, precisa se posicionar diante dos ataques fascistas, mas, ao fazer isso, vira o inimigo a ser combatido por aqueles que caminham com a onda de retrocessos.
Fechar as portas
Parte do golpe, disse Ricardo Gebrim, foi fechar as portas para a retomada do neodesenvolvimentismo na América Latina, com medidas como a Emenda Constitucional (EC)95, que impede o investimento público por 20 anos, o projeto de autonomia do Banco Central, que retira o controle sobre a moeda por parte do Executivo, e a já citada venda de ativos da Petrobrás e do setor elétrico.
Ironicamente, um programa altamente entreguista, mas parte de um governo que comanda o país sob o lema do amor à pátria.
Esse balcão de negócios, acredita Gebrim, tem como objetivo promover um ‘vôo de galinha’ suficiente para estancar uma economia em crise e promover a vitória nas próximas eleições.
Para ele, será a classe trabalhadora a fiel da balança capaz de dizer se o plano deu certo ou não.
“O momento é muito complexo e difícil, mas, historicamente, não há contrarrevolução, como essa que vivemos agora, que não seja seguida por uma revolução. O grande papel agora dos movimentos sindical e sociais é manter-se vivo, resistir diante de um inimigo que deseja nos destruir. E isso exigirá muita habilidade política e coesão interna”, afirmou.