5 livros sobre a questão Palestina

A reportagem do Sindipetro Unificado selecionou cinco títulos para aprofundar o conhecimento sobre a maior tragédia atual

Crianças palestinas durante apagão em Khan Yunis, em agosto de 2020 (Foto: Activestills / Mohammed Zaanoun)

Por Marcelo Aguilar

Até o momento, o exército do Estado de Israel matou mais de 35 mil palestinos (sem contar as pessoas que estão soterradas embaixo de escombros), dentre eles mais de 14 mil crianças. A destruição provocada pelo Exército sionista na Faixa de Gaza acabou com quase a totalidade da infraestrutura civil, hospitalar e educacional da Palestina, e a situação ainda pode piorar muito. No dia 26 de maio, houve um dos episódios mais violentos dessa ofensiva, com o bombardeio realizado por Israel num campo de refugiados em Rafah, na fronteira com o Egito, onde refugiados palestinos foram queimados vivos em tendas humanitárias, gerando uma onda de repúdio internacional.

Esses assassinatos ocorreram dois dias após a Corte Internacional de Justiça ordenar que Israel interrompesse a ofensiva na região, e depois que o procurador-geral da Corte Penal Internacional emitiu ordens de captura contra o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e contra o ministro da Defesa, Yoav Gallant.

Diante desse cenário, aprofundar o conhecimento sobre o processo histórico da região se torna fundamental para compreender o genocídio contra o povo palestino. A pesquisa acadêmica, a história e a literatura têm um papel fundamental para compreender as razões profundas de um “conflito” que parece não ter fim.

Esses livros aqui selecionados analisam detalhadamente as principais questões que envolvem a colonização israelense na Palestina e os impactos que essa tragédia causa até hoje na população árabe que habita essas terras.

Confira:

1- A questão Palestina (Edward Said)

Publicado em 1979, e revisado posteriormente pelo autor, é um clássico dos estudos sobre a Palestina. O livro é escrito pelo grande humanista Edward Said, provavelmente a voz mais lúcida sobre o assunto, nascido em Jerusalém em 1935, e naturalizado estadunidense. Said foi o intelectual palestino mais influente e teve importante papel como ativista da causa do seu povo. Neste livro, o autor coloca sua voz para apresentar ao mundo uma forma de pensar e sentir palestina, uma visão sobre a grande tragédia da colonização e sobre “a grande questão” que representa o estabelecimento do Estado de Israel e suas consequências posteriores. O livro, que coloca a visão palestina sobre esse processo, é potente em sua desconstrução da narrativa sionista ao longo da história, posicionando a visão de suas próprias vítimas. Indispensável para quem se interessa pela história da região, o livro é, acima de tudo, sensível ao sofrimento do povo palestino.

Editora Unesp R$ 74,00


2- Dez mitos sobre Israel (Ilan Pappe)

Neste livro didático e urgente, publicado no Brasil pela Editora Tabla, o historiador israelense analisa e desmonta alguns dos mitos mais difundidos sobre a história e a atualidade do Estado de Israel – geralmente promovidos oficialmente no país. Pappe, parte de um grupo de historiadores que transformou o conhecimento sobre o conflito na região, derruba entre outros mitos o de que a Palestina era uma terra vazia quando os judeus começaram a colonizá-la, de que o sionismo não é colonialismo e de que os árabes deixaram sua pátria voluntariamente em 1948, quando começou o processo de expulsão que os palestinos chamam “Nakba” (A grande Tragédia). Sobre esse assunto, Pappe escreveu seu livro mais famoso: A limpeza étnica da Palestina, que também tem tradução em português, pela Editora Sundermann.

Editora Tabla, R$ 67,00

3- A grande guerra pela civilização (Robert Fisk)

O britânico Robert Fisk, um dos maiores nomes do jornalismo mundial e profundo conhecedor do Oriente Médio, apresenta uma obra monumental. Misto de reportagem de guerra da melhor qualidade e memórias do repórter, testemunha dos maiores eventos históricos da região, o livro, publicado em 2007, serve para compreender o passado, o presente, e infelizmente o futuro, numa das regiões mais desconhecidas pelo Ocidente. Crítico ferrenho da ocupação israelense na Palestina, o capítulo dedicado ao tema é primoroso, e serve para compreender o momento atual sob um olhar robustamente documentado e inteligente. É possível encontrar o livro na Estante Virtual.

4- Homens ao Sol (Ghassan Kanafani)

Esse é um dos romances fundacionais da literatura palestina no exílio. O livro conta a história de três refugiados palestinos de diferentes gerações que entram num caminhão pipa, buscando chegar ao Kuwait e encontrar trabalho. Kanafani, jornalista, dramaturgo e romancista, ele próprio um refugiado de 1948, foi o grande renovador da literatura palestina e árabe, trabalho que dividiu com a militância política. Foi um dos fundadores da Frente Popular pela Libertação da Palestina. Em 1972, no Líbano, Kanafani, à época com 36 anos, foi assassinado junto com sua sobrinha de 17 pelos serviços secretos israelenses, que colocaram uma bomba embaixo do seu carro, mas seu legado permanece vivíssimo na resistência palestina contra a opressão. Retorno a Haifa, também de autoria de Kanafani, é outro dos clássicos da literatura palestina.

Editora Tabla R$ 59

5. Detalhe menor (Adania Shibli)

Um romance devastador, como a realidade sob a ocupação israelense. Publicado originalmente em 2017 e lançado no Brasil em 2021, o livro narra o estupro e posterior assasinato de uma jovem por parte de soldados israelenses em 1949, um ano após o início da Nakba, e no alvorecer do atual Estado de Israel. Anos mais tarde, uma mulher palestina começa investigar os detalhes do caso. A autora, a escritora palestina Adania Shibli, foi assunto internacional em outubro de 2023, após vencer o prêmio literário LiBeraturpreis e logo depois ser cancelada a cerimônia da entrega da sua premiação, que aconteceria na Feira do Livro de Frankfurt. A própria Feira emitiu uma nota, argumentando que não era momento oportuno e que a Feira “queria dar mais espaço às vozes israelenses e judaicas”. A escritora foi atacada na imprensa e censurada na feira. Em manifesto, mais de 600 escritores, dentre eles três prêmios Nobel, criticaram a atitude da Feira e afirmaram que era obrigação da organização “dar espaço para que os escritores palestinos compartilhem seus pensamentos, sentimentos e reflexões sobre a literatura nestes tempos terríveis e crueis”.

Editora Todavia R$ 59,90

 

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